Segundo suas próprias palavras:
"O ambiente afeta a forma e a organização dos animais o que significa que, quando o ambiente torna-se muito diferente, ele produz, num período de tempo correspondente, modificações na forma e organização dos animais".
(Traduzido de Zoological Philosophy. Londres, Macmillan and Company, 1914.)
De acordo com a proposta de Lamarck, a atrofia de partes do organismo devido ao desuso, o desenvolvimento de músculos resultante de exercícios contínuos e o escurecimento da pele sob ação da radiação solar seriam características que, uma vez adquiridas, tornar-se-iam hereditárias. Exemplos como esses e muitos outros obtidos através de acurado estudo de fósseis marinhos levaram Lamarck à proposição de dois princípios que são os pilares da sua teoria evolucionista. São eles:
O uso continuado de um órgão ou parte do organismo determina o seu desenvolvimento (hipertrofia). Em contrapartida, o desuso resulta em desenvolvimento reduzido (atrofia) ou mesmo desaparecimento de um órgão ou parte do organismo.
As características adquiridas através do uso ou do desuso de órgãos ou partes do organismo tornam-se hereditárias com o passar do tempo. Desse modo novas espécies surgem a partir de transformação de outras já existentes.
Vários exemplos ilustram estes princípios e o modo pelo qual permitiriam o aparecimento de novas espécies. Um deles explica a existência de peixes cegos em cavernas. Peixes dotados de visão teriam passado a viver em cavernas onde a inexistência de luz condicionou a atrofia de seus olhos por desuso.
A atrofia, ocorrida ao longo de gerações, teria sido transmitida aos descendentes até o aparecimento de espécies de peixes cegos perfeitamente adaptados ao lugar onde vivem. Note-se, nesse exemplo, a ação condicionante do ambiente sem luz, fator determinante do desuso dos olhos, de sua atrofia, da transmissão à descendência e do aparecimento de espécies de peixes cegos.
Outro exemplo bastante citado é o que busca explicar a existência do longo pescoço das girafas atuais. Segundo Lamarck, as girafas ancestrais teriam pescoço curto. Mudanças ambientais tornaram difícil a obtenção de alimentos pelas girafas já que passaram a ser encontrados apenas no topo de árvores. A necessidade de alimentos teria obrigado as girafas a um esforço de alongamento do pescoço para alcançá-los.
A hipertrofia decorrente do uso permanente dos músculos do pescoço (caráter adquirido) teria sido transmitida hereditariamente por gerações subseqüentes verificando-se progressivo aumento desta parte do organismo. Teria sido desse modo que o pescoço das girafas atingiu o tamanho que atualmente se verifica.
Obviamente, o Cavaleiro de Lamarck propôs uma teoria evolucionista que não pode ser aceita. Seu grande erro foi acreditar que características adquiridas possam ser transmitidas hereditariamente. Entretanto, é preciso lembrar que à época em que Lamarck viveu os princípios da hereditariedade que hoje conhecemos ainda não tinham sido desvendados.
As bases da genética e da reprodução só viriam a ser desvendadas por Gregor Mendel por volta de 1860. Ainda assim, os experimentos de Mendel permaneceriam desconhecidos por cerca de quarenta anos vindo a ser redescobertos somente em 1900 através de estudos isolados de Correns, Tchesmark e Hugo de Vries.