Formação e preservação dos fósseis

                   A fossilização de um organismo é resultante da ação de um conjunto de processos químicos, físicos e biológicos que atuam no ambiente deposicional. Têm mais chances de serem preservados aqueles organismos que possuem partes biomineralizadas por carbonatos, fosfatos e silicatos ou constituídos por materiais orgânicos resistentes, como a quitina e a celulose. Mesmo assim, ocorrem no registro geológico muitas preservações excepcionais de partes moles (CASSAB, 2004).
Após a morte dos organismos, no ciclo natural da vida, as partes moles entram em processo de decomposição devido à ação das bactérias, e as partes duras ficam sujeitas às condições ambientais, culminando com sua destruição total. A fossilização representa a quebra deste ciclo e, portanto, deve ser sempre vista como um fenômeno excepcional. No decorrer do tempo geológico, apenas uma percentagem ínfima das espécies que um dia habitaram a biosfera terrestre preservou-se nas rochas. Muitas espécies surgiram e desapareceram sem deixar vestígios, existindo portando muitos hiatos no registro paleontológico (CASSAB, 2004).
Vários fatores atuam na preservação dos indivíduos e favorecem a fossilização. O soterramento rápido após a morte, a ausência de decomposição bacteriológica, a composição química e estrutural do esqueleto, o modo de vida, as condições químicas que imperam no meio, são alguns desses fatores, cujo somatório determinará o modo de fossilização. Mesmo depois dos fosseis já estarem formados, outros fatores concorrem para sua destruição nas rochas, como águas percolantes, agentes erosivos, vulcanismo, eventos tectônicos e metamorfismo. As rochas onde os fosseis são encontrados indicam as condições que prevaleceram no ambiente onde esses organismos viviam ou para o qual seus restos foram transportados (CASSAB, 2004).
Peculiaridades químicas e fatores físicos, juntos, são responsáveis pela preservação e integridade do espécime fóssil. Os principais são: distância do transporte, tempo de flutuação, taxa de deterioração, taxa de mineralização e taxa de sedimentação (MARTINS-NETO & GALLEGO, 2006).
A distância do transporte depende de peculiaridades na variação de possibilidades do fluxo da água e velocidade do vento. Igualmente, atuam a carga do fluxo, topografia do terreno, inclinação, barreiras, vegetação e taxa de precipitação (MARTINS-NETO & GALLEGO, 2006).
O tempo de flutuação depende de características peculiares de matérias contidas na água: concentração salina, quantidade de O2, resistência exterior, densidade, pH, temperatura, profundidade, tamanho, presença de minerais e fragmentos. Paralelamente, o tempo de flutuação depende da conveniência do organismo: se ele é duro, leve, pontiagudo, plano, delicado, grande, pequeno, e especialmente se ele está vivo ou morto (MARTINS-NETO & GALLEGO, 2006).
A taxa de deterioração depende de características peculiares presentes na água: quantidade de microorganismos, presença ou ausência de anoxia no fundo, ausência ou presença e quantidade de minerais específicos no corpo d'água, e sobre ele (MARTINS-NETO & GALLEGO, 2006).
O tempo de flutuação, combinado com a distância do transporte, produz um produto final: o fóssil coletado, dessa forma reduzindo-o a seis variáveis: fóssil completamente articulado; semi-articulado; totalmente desarticulado; completamente fragmentado; semi-fragmentado e totalmente desarticulado. Uma espécie totalmente articulada implica que a distância do transporte foi mínima (mesmo terrestre) ou rápida (mesmo aérea), dessa forma impedindo ou iniciando o processo de transporte por abrasão (MARTINS-NETO & GALLEGO, 2006).
A seqüência ou ordem de desarticulação é um importante fator na análise da historia tafonômica (tafonomia: tafos=sepultamento; nomos=leis) de um vertebrado, porque fornece subsídios importantes para o entendimento dos processos e eventos ocorridos no pós-morte/pré-soterramento. Nos vertebrados, a seqüência de desarticulação é determinada pelo tipo de articulação do elemento ósseo no esqueleto. Sob condições de clima úmido ou em ambiente marinho, a desarticulação se inicia com a desconexão do crânio, devido à alta mobilidade da junção atlas-áxis, seguindo a desarticulação dos membros e da coluna vertebral caudal. Por último, há a desarticulação da coluna vertebral dorsal-sacral. Em vertebrados terrestres, sob clima árido, essa seqüência é prejudicada pela mumificação (preservação parcial das partes moles por desidratação) das carcaças. Fatores adicionais, como a ação de necrófagos e, no caso de vertebrados terrestres, o pisoteio (trampling) podem contribuir para a desarticulação esquelética (SIMÕES & HOLZ, 2004).